Edvaldo Souza Couto
Edvaldo Couto discute nesse texto sobre as incertezas da vida atual, onde existe a necessidade do indivíduo ser autônomo para construir sua liberdade. Esse movimento perpassa pelo culto ao corpo e o desejo de modificá-lo. Nesse processo, onde tudo é veloz, nada é estável, tudo deve estar pronto para consumo imediato, vale experimentar e exercitar outros valores como a satisfação instantânea. Segundo o autor essa mutabilidade condiciona e metamorfoseia todos os aspectos da vida, sobretudo o nosso corpo, apoiado pelas novas tecnologias.
O autor divide o texto em quatro partes. Na primeira, ele trata do “corpo espetáculo e a juventude (quase) eterna”, onde ele sinaliza que a partir do projeto genoma existe uma tentativa científica de tornar o corpo de cada pessoa livre do patrimônio cultural genético. O culto ao corpo se tornou um estilo de vida e o corpo deve ser continuamente turbinado para acompanhar a sofisticação das máquinas. Este corpo que o autor chama de espetacular deve dar adeus à morte. E mesmo a ciência empenhada em prolongar a vida, envelhecer ainda é inevitável.
Na segunda parte o autor fala da esperança cyborg e as novas eficiências corporais. Segundo ele desde os anos 50 que as experiências de mixar corpo com tecnologias vem se deslocando da ficção para o cotidiano das pessoas. Edvaldo Couto cita Kevin Warnick (1995) que defende a idéia de que como cyborg nossas capacidades humanas evoluirão tecnologicamente, serão ampliadas, poderemos ter mais possibilidades de memória ou de processamento de informações, capacidades extra-sensorial, habilidade de nos comunicar ou operar máquinas com o pensamento.
Na terceira parte o autor fala sobre a engenharia de tecidos e as novas mutações corporais, explicando que os cuidados com a revitalização da aparência não são separados dos cuidados com tudo aquilo que dentro do corpo vive protegido pela pele.
Para o autor o corpo se tornou o lugar ideal para todo tipo de experimento da biotecnologia, investimento da economia de mercado e o principal objeto de consumo no capitalismo avançado. Fica evidente na quarta parte do texto que os usos e abusos no hipermercado do corpo são sutis e imprecisos.
Na quinta e última parte, “ uma estética para corpos mutantes”, Edvaldo Couto enfatiza que de modo geral os corpos já existentes são vistos como problemáticos, deficitários e precisam ser dinamizados, potencializados pela tecnociência. Sendo assim, as escolhas supostamente corretas constroem eficiência e, as inadequadas constroem deficiência.
quarta-feira, julho 28, 2010
terça-feira, julho 27, 2010
Corpo cyborg e o dispositivo das novas tecnologias
Homero Luis Alves de Lima
Homero Luis versa nesse texto sobre as múltiplas possibilidades de transformações do corpo que vêm acontecendo atualmente, graças a aceleração tecnológica que com ela trouxe também o desenvolvimento científico-tecnológico. A robótica, a biônica , a nanotecnologia e tantas outras tecnologias, são capazes de produzir órgãos, realizar diagnósticos precisos, combater doenças, realizar vida em laboratório, cirurgias sem cortes... Em fim, todas essas possibilidades segundo o autor traz novas perspectivas e novas metáforas e imagens do corpo.
Segundo o autor, a contínua mecanização do humano e a intensa vitalização das máquinas e sua integração pela cibernética transgride as fronteiras do que é vivo e não- vivo, do humano e da máquina. Contudo essa realidade cyborg não pode ser negada, já faz parte do nosso meio. Nesse momento o autor faz alguns questionamentos : Quem somos nós? Onde termina o humano e onde começa a máquina? Onde termina a máquina e começa o humano? É nesse cenário que surge as metáforas associadas ao pós-biológico, pós orgânico e o pós –humano.
Na segunda parte do texto , Homero faz uma breve genealogia do cyborg, citando alguns autores. Clynes e Kline (1995, p. 30), diz que o cyborg era apresentado como uma solução para as questões da alteração das funções corporais do homem para corresponder às necessidades de ambientes extraterrestres.
O cyborg alcança uma nova dimensão na década de 80 com a ficção científica O homem de seis milhões de dólares). Essa figura tornou-se familiar do sujeito da pós-modernidade por conta da fascinação com o artificial. O cyborg de hoje é diferente de seus ancestrais mecânicos por que são máquinas de informação.
Na terceira parte do texto, o autor trata da antropologia do cyborg, quando sinaliza que há muitos cyborgs entre nós na sociedade. Qualquer pessoa que tenha sido reprogramada para resistir à doenças ou mesmo drogada para pensar, se comportar ou sentir-se melhor farmacologicamente , é tecnicamente um cyborg. Nesse sentido o autor faz um alerta para os perigos e os prazeres da descoberta da presença do cientista em nós, da participação ativa ou passiva na ciência e na tecnologia.
Na última parte o autor fala sobre a compreensão do cyborg, segundo Harawai (2000), que concebe o cyborg como uma criatura da realidade social e também da ficção. É uma figura de um mundo pós-gênero, sem qualquer compromisso com a biossexualidade. Ela postula a escrita cyborg como estratégia política particularmente para as mulheres onde estas devem recodificar a comunicação de informações no intuito de subverter o comando e o controle.
domingo, julho 25, 2010
Velhice, palavra quase proibida;terceira idade, expressão quase hegemônica
Annamaria da Rocha Jatobá Palacios
Nesse texto a autora Annamaria da Rocha faz uma análise da inter relação entre os termos velhice e terceira idade, na perspectiva de Norman Fairclough ( 2001), a qual busca pontuar o fenômeno de mudanças do discurso publicitário de cosméticos em revistas femininas, que paralelo às transformações sociais da contemporaneidade, esta salienta no texto um ponto de tensão entre os dois termos ao passo que analisa a substituição gradual de um termo pelo outro.
Annamaria destaca a existência de duas visões conflitantes da velhice: a primeira fortalece a compreensão desse processo através dos enunciados dos cosméticos que trazem implícitos como uma época sombria, onde o indivíduo já está em sua fase final de vida. A outra aponta para a existência de uma terceira idade que nos remete à compreensão de fases anteriores e ainda que aponte para a fase final da vida, segundo a autora, não faz alusão direta a vocábulos marcados semanticamente como velhice senilidade e envelhecimento.
É bem interessante nesse texto quando a autora cita Andrew Blaike ( 1995) onde este associa a generalização do termo terceira idade para se referir a velhice, com a mudança de valores relacionados com a pós – modernidade. Ele enfoca o envelhecimento a partir de perspectivas que privilegiam as dimensões discursivas de construção social de imagens e identidade. Annamaria chama a atenção do leitor para as mudanças demográficas que ocorreram nas últimas três ou quatro décadas e que tornaram-se globais, levando a criação de um grupo de terceira idade. Nesse processo o Brasil não ficou de fora. O declínio da taxa de natalidade, por conta dos métodos contraceptivos e outras tantas mudanças sociais, modificaram a estrutura etária da população. Segundo a autora é nesse momento histórico da década de 90 que uma segmentação do discurso publicitário de cosméticos passa a inserir produtos direcionados especificamente para faixas etárias determinadas. Esses mesmos anúncios nessa época já preconizam que os cuidados com o corpo deveriam se iniciar aos 20 e não aos 30 ou 40 anos. A busca pela juventude resulta em um comportamento ativo de combate a velhice.
A autora sinaliza que nesse processo de luta articulatória entre os dois termos observado em um mesmo corpo, mas que é representado por uma simples correlação, permite-se afirmar que se chegar à velhice implica também ter se chegado à terceira idade. A mesma conclui que falar em terceira idade ou velhice ainda representa uma ambivalência semântica , mesmo que haja uma relação de assimetria entre os sinais de desaparecimento de um termo e de sua substituição por outro.
quinta-feira, julho 08, 2010
domingo, julho 04, 2010
Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d) eficiências corporais/ Organizado por: COUTO, Edvaldo Souza; GORLLNER, Silvana Vilodre – 2ª Ed-Porto alegre: Editora da UFRGS,2009
Malu Fontes
Nesse texto, que faz parte do livro Corpos Mutantes, a autora Malu Fontes faz uma análise sobre o ideal de corpo de acordo com os padrões exigidos pelos meios de comunicação de massa, o qual o denomina de corpo canônico. Esse corpo canônico seria o corpo resultante de investimento em práticas que objetivam alterar as configurações anatômicas e estéticas e são sinônimos de beleza, saúde e bem-estar. Nesse contexto, a mulher sendo mais vulnerável aos apelos midiáticos, seriam elas referências de elementos relacionados à juventude, vigor e saúde.
No primeiro capítulo, a autora sinaliza que o corpo desejável nos meios de comunicação de massa em alguns cenários sociais pode ser dissonante em relação ao corpo canônico de acordo com os padrões religiosos e alimentares ditas alternativas, e esses padrões podem sofrer alterações de acordo com as tendências ao longo do tempo.
M. Fontes discute a dificuldade das mulheres deficientes físicas se afirmarem como cidadã em um contexto social e culturalmente marcado por uma corporeidade feminina canônica, haja vista que para esse corpo dissonante, a cultura de massa pode ser um elemento acentuador de angustia.
A autora faz uma retrospectiva histórica para que o leitor entenda o percurso do estatuto do corpo no Ocidente, desde os tempos em que o culto ao corpo era demonizado, escondido, fruto de vergonha, chegando ao seu descortinamento respaldado pelo avanço médico e científico da contemporaneidade, o que contribuiu decisivamente para a sua exposição . Na verdade, segundo a autora o início dos processos de redefinição do corpo remonta ao período das duas grandes guerras mundiais. Contudo, o corpo se consolida na segunda metade do século XX em consequência das mudanças de paradigmas gerados pela reconfiguração do mapa geopolítico do mundo após a Segunda Guerra . Até esse momento eram as metanarrativas que prevaleciam juntamente com os referenciais políticos, filosóficos e ideológicos que norteavam a humanidade, os quais foram substituídas pelos grandes paradigmas. Essa crise levou o homem ao individualismo, voltando-se para a sua própria imagem, para o culto ao próprio corpo.
No segundo capítulo, Malu Fontes aborda as características que identificam um corpo canônico para adiante confrontá-lo com o corpo dissonante. Salienta que o corpo canônico é o corpo alterado mediante as práticas, métodos e artifícios que foram aperfeiçoados ao longo do séc. XX. E é através das mídias que as modalidades físicas são disseminadas conquistando todas as classes sociais , regulados pelo poder aquisitivo de cada indivíduo. Essa parte do texto é bem interessante e chama a atenção do leitor para as formas adotadas pelos economicamente excluídos para estabelecer um discurso de altivez.
O corpo dissonante é o corpo ausente de discursos culturais. Esse corpo, ilustrado pelos deficientes físicos, só se constitui um atrativo e consumível na cultura de massa quando apresentado sobre a configuração de espetáculo e denúncia. E, quando naturalizado e sem artifícios reduz-se a objeto causador de rejeição.
Esse texto é um convite à reflexão sobre esses corpos cheios de possibilidades de serem modificados diante da gama de técnicas que são oferecidas e utilizadas e que todos nós estamos inseridos nessa cultura e fazemos parte desse processo.
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