domingo, julho 04, 2010

Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d) eficiências corporais/ Organizado por: COUTO, Edvaldo Souza; GORLLNER, Silvana Vilodre – 2ª Ed-Porto alegre: Editora da UFRGS,2009






OS PERCURSOS DO CORPO NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
                                                                                                Malu Fontes


Nesse texto, que faz parte do livro Corpos Mutantes, a autora Malu Fontes faz uma análise sobre o ideal de corpo de acordo com os padrões exigidos pelos meios de comunicação de massa, o qual o denomina de corpo canônico. Esse corpo canônico seria o corpo resultante de investimento em práticas que objetivam alterar as configurações anatômicas e estéticas e são sinônimos de beleza, saúde e bem-estar. Nesse contexto, a mulher sendo mais vulnerável aos apelos midiáticos, seriam elas referências de elementos relacionados à juventude, vigor e saúde.


No primeiro capítulo, a autora sinaliza que o corpo desejável nos meios de comunicação de massa em alguns cenários sociais pode ser dissonante em relação ao corpo canônico de acordo com os padrões religiosos e alimentares ditas alternativas, e esses padrões podem sofrer alterações de acordo com as tendências ao longo do tempo.

M. Fontes discute a dificuldade das mulheres deficientes físicas se afirmarem como cidadã em um contexto social e culturalmente marcado por uma corporeidade feminina canônica, haja vista que para esse corpo dissonante, a cultura de massa pode ser um elemento acentuador de angustia.

A autora faz uma retrospectiva histórica para que o leitor entenda o percurso do estatuto do corpo no Ocidente, desde os tempos em que o culto ao corpo era demonizado, escondido, fruto de vergonha, chegando ao seu descortinamento respaldado pelo avanço médico e científico da contemporaneidade, o que contribuiu decisivamente para a sua exposição . Na verdade, segundo a autora o início dos processos de redefinição do corpo remonta ao período das duas grandes guerras mundiais. Contudo, o corpo se consolida na segunda metade do século XX em consequência das mudanças de paradigmas gerados pela reconfiguração do mapa geopolítico do mundo após a Segunda Guerra . Até esse momento eram as metanarrativas que prevaleciam juntamente com os referenciais políticos, filosóficos e ideológicos que norteavam a humanidade, os quais foram substituídas pelos grandes paradigmas. Essa crise levou o homem ao individualismo, voltando-se para a sua própria imagem, para o culto ao próprio corpo.

No segundo capítulo, Malu Fontes aborda as características que identificam um corpo canônico para adiante confrontá-lo com o corpo dissonante. Salienta que o corpo canônico é o corpo alterado mediante as práticas, métodos e artifícios que foram aperfeiçoados ao longo do séc. XX. E é através das mídias que as modalidades físicas são disseminadas conquistando todas as classes sociais , regulados pelo poder aquisitivo de cada indivíduo. Essa parte do texto é bem interessante e chama a atenção do leitor para as formas adotadas pelos economicamente excluídos para estabelecer um discurso de altivez.

O corpo dissonante é o corpo ausente de discursos culturais. Esse corpo, ilustrado pelos deficientes físicos, só se constitui um atrativo e consumível na cultura de massa quando apresentado sobre a configuração de espetáculo e denúncia. E, quando naturalizado e sem artifícios reduz-se a objeto causador de rejeição.

Esse texto é um convite à reflexão sobre esses corpos cheios de possibilidades de serem modificados diante da gama de técnicas que são oferecidas e utilizadas e que todos nós estamos inseridos nessa cultura e fazemos parte desse processo.

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